A hora do encontro é também despedida

Modelo: Paula Vilas Boas; fotógrafa: Helenice Stela 



 por: Cristina Toledano, mamífera convidada
Publicado em blogmamiferas.com.br
 “Quando nasce um filho, a nossa vida muda. Para algumas drasticamente, para outras menos, mas ter um filho sempre implica alguma transformação. Ter um filho é a expressão mais contundente da novidade…
Aquilo que era, até então, precisa ceder lugar para o novo, e este movimento dificilmente é liso e tranquilo. Me vem à cabeça uma palavra que eu acho que descreve a intensidade e a extrema delicadeza deste momento: vive-se no pós-parto um luto. Sim, um luto. Luto por um modo da gente viver a vida que não encontra mais possibilidade de ser como era. Pode parecer esquisito e paradoxal falar em morte num momento em que o nascimento é o grande protagonista, mas é exatamente este paradoxo que está presente, e que se mostra, na calada da noite, no desconforto da dedicação ininterrupta com os cuidados com o bebê, nos desejos de reter (re-ter, ou ter novamente) a vida que era, tudo isso, muitas vezes vivido solitariamente no silêncio do nosso íntimo.
A expressão “baby blues” do inglês, que traduzo aqui como tristeza materna, é um sentimento que nasce deste drama que a mulher vive. Este sentimento é, muitas vezes, indesejado e mal compreendido. A recém-mãe se assusta ao se ver triste, e muitas vezes se culpa por sentir-se assim. Como posso estar triste num momento alegre como este?
Se olharmos com cuidado e carinho para o verdadeiro significado deste momento, e todas as implicações que ele tem concretamente nas nossas vidas, esta tristeza se mostra como sendo legítima e compreensível, pois o que está se dando, de fato na experiência desta mulher, é uma enorme mudança. Uma passagem que exige um deixar ir, quase sempre lento e sofrido, mas que aos poucos, se lhe é permitida sua expressão, o seu pranto, pode abrir-se para o novo, pois ao que foi, deu-se o seu devido lugar de valor. Vive-se um luto, e todo luto é despedida.
Choramos porque fomos felizes.
Assim, para receber bem, é preciso deixar ir… na alegria e perplexidade diante do nascimento, dois lados da mesma moeda, de uma mesma mulher, de uma nova mulher, que renasce inteira porque pode dizer adeus.
Como diz nosso querido Milton Nascimento: “A hora do encontro é também despedida. A plataforma da estação é a vida”.

0 comentários:

Postar um comentário