A dor de ser mãe


Andréia Meneguete - Publicado em http://www.tempodemulher.com.br/

Não importa o cenário, o local, a situação ou o pai. Receber a notícia de um resultado positivo de gravidez faz qualquer mulher temer a nova condição: ser mãe. Por mais segura e independente - financeira e emocional - que a mulher seja, ela vai titubear e enlouquecer, nem que seja por minutos ou algumas horas. Engravidar, quando se pensa friamente e de forma bem reflexiva é, no mínimo, assustador. Quando se percebe que há uma coisinha se mexendo, bem ali, na própria barriga é de abalar qualquer estrutura. Até as praticantes de budismo e seguidoras de Mahatma Gandhi ficam descompensadas.
 
A felicidade, ansiedade, insegurança misturam-se com o medo e as dores. Sim, porque ser mãe dói. Primeiro, vem a dor dos pés daquele ser minúsculo que resolvem se alocar bem atrás das suas costelas. Depois, não satisfeito, ele brinca de se mexer e, depois, de estátua. Resultado barriga endurecida e dolorida. E como tudo que esta incomodando pode piorar, é a vez de se sentir exausta, com os pés inchados e aquele sono sem fim. Tem dor mais chata do que aquela de querer dormir quando se está cansada e com as costas quebradas por ter que carregar uns dez quilos a mais do que o seu próprio peso?

Ela opta por dar sua vida a alguém que um dia vai lhe magoar em meio a uma rebeldia, ela vai gerar em seu ventre um ser que não sabe ao certo se vai entendê-la diante de cobranças e preocupações, ela vai engordar e perder a beleza em potencial do seu corpo para fazer deste ventre uma hidromassagem vip, e o mais extremo: ela vai dedicar anos de sua vida para formar alguém que vai ser do mundo".

Afinal, ali está a criatura que vai mudar a sua vida e todas as suas convicções. E não tem garantia ou termo de devolução. Vocês vão ter que se entender, querendo ou não. A dúvida da capacidade de cuidar de outro alguém acaba no primeiro minuto pós-parto. A mulher deixa de ser gata manhosa e assume a vez de leoa, capaz de ferir e matar qualquer possibilidade ou pessoa com intenção de fazer mal à sua cria. Lei da natureza, do instinto, de Deus.

Chega o tão esperado dia - que por algum momento você imaginou que jamais fosse chegar. Porque gravidez é assim: não tem fim. Para a gestante, ela parece durar 20 anos. As dores da contração chegam, as pessoas pedem para você respirar quando na verdade você quer é mesmo segurar a respiração e desmaiar para ver se aquela tortura some junto com a sua consciência. Seu médico resolve deixar o terno e a gravata e aparecer para você numa vestimenta duvidosa e engraçada e pedir a famosa calma que foi embora junto com a sua elegância. Já viram mulher prestes a ter um filho? Ela grita, faz cara feia e manda qualquer um ao inferno em questão de segundos.
Mas sabe o que é mais engraçado? A recompensa é tão grande que faz qualquer dor se transformar em apenas fisgadas.


É... ser mãe é padecer no paraíso.É, realmente, eu não tenho dúvidas de que ser mãe é a melhor coisa do mundo. Ser mãe é algo que transcende a matéria, que se explica por sensações, risos, choros e gratificações. Ser mãe é como, um dia, um psicanalista - que por sinal não lembro o nome - disse para mim numa conversa descompromissada: "Quando a mulher decide ser mãe, ela se desprende de qualquer vaidade, individualismo e conforto. Depois, chega a hora de alimentá-lo. Seios fartos, com bicos rachados. Mais uma vez, a dor. Só que a causa é maior: você precisa nutrir um pequeno corpo, que tem que engordar e criar anticorpos.

Quando por fim, você pensa que já se acostumou, outras novidades entram na sua rotina. Dormir é luxo, tomar banho com calma não é essencial e assistir novela é dispensável. Seus horários são determinados pelo novo hóspede, que teima em ditar as regras daquela casa que, até três dias atrás, era seu território. Tudo bem, quem grita mais sai na frente. Então imagine quem grita e chora sem controle? Enfim, a pessoa que você mais vai amar na vida resolve mostrar a carinha para o mundo. E você chora. De alegria e desespero.
E claro que não para por ai. Alguém disse que seria fácil?

Andréia Meneguete, 29 anos, é jornalista com especialização em Arte, Estética e Moda, taurina, mãe do João Pedro, esposa do Elton, trabalha como repórter e professora, apaixonada pelo universo feminino e adora encontrar poesia no cotidiano.

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